Gouveia e Melo evita selfies, rejeita Serviço Militar Obrigatório e pede “tempo” para desfazer tabu
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Gouveia e Melo chegou com meia hora de antecedência à Faculdade de Direito e foi logo abordado por alunos-fãs, que lhe pediram selfies. O almirante e potencial candidato presidencial quis marcar a diferença para o atual chefe de Estado e contrapôs com uma fotografia a sério. “Selfies está muito usado”, comentou com o Observador por perto. O potencial candidato presidencial — o último dos cinco presidenciáveis que participou na conferência da SEDES em dois dias — tentou afastar fantasmas. Desde logo, garante que rejeita o regresso do SMO e é mesmo taxativo: “Não sou adepto do Serviços Militar Obrigatório, sou adepto de outra coisa mais inteligente”.
Gouveia Melo, perante uma plateia de jovens, quis garantir que não os enviará para um sistema como o que existia nos anos 90. Os adversários têm lembrado que o almirante — num artigo de opinião publicado no Expresso em março de 2024 — admitiu a possibilidade de recorrer a este tipo de recrutamento. Agora diz que não “há necessidade” de voltar a esse sistema e acrescenta que “assustar os jovens com a palavra SMO [Serviço Militar Obrigatório] é a pior coisa que existe”.
Mas afinal que sistema propõe? Gouveia e Melo fala num “modelo mais inteligente“, que passa por ter um grupo de militares voluntários, já com formação militar, que possam “ir à sua vida”, mas passem a reservistas (que podem ser chamados a qualquer momento). Estes “militares voluntários” com os “incentivos certos” — como, exemplifica, “fiscais” — teriam a disponibilidade de “serem rapidamente chamados ao serviço ativo”. No entanto, faz uma advertência, com um picante presidencial pelo meio: “Isso compete à governação. Embora eu possa vir a dar os meus conselhos”.
Outro dos fantasmas que Gouveia e Melo quis afastar foi o de ataque ao Estado Social. Henrique Gouveia e Melo — que admitiu a afetação das despesas sociais para compensar o aumento do gasto em Defesa em janeiro — agora vem explicar melhor o que defende. O potencial candidato presidencial diz que não dever ser o aumento da despesa em Defesa “ou” o aumento da despesa social, mas “e”. Ou seja, conciliar ambos.
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Chega a dizer que “não devemos cortar no Estado social, que isso que foi o que garantiu a segurança europeia”, mas logo acrescenta um “no entanto”: “No entanto, temos de defender a nossa sociedade”. E considera que a “eficiência” (ou até o crescimento do PIB) podem ajudar a compensar aquilo que o Estado Social pode ter de perder para investir em Defesa. E atira: “A despesa do Estado Social é de 64/65%. Se usarmos 64,5%, o Estado social não cai no dia seguinte.” Aqui admite um corte de meio por cento nas despesas sociais, embora o ideal seja mesmo o país crescer: “Com o crescimento do PIB, aumenta a disponibilidade para aumentar as despesas em Defesa e as despesas sociais”.
Gouveia e Melo cita depois Paul Samuelson para dizer que não é preciso escolher “entre os canhões e a manteiga“, mas que é preciso “canhões para proteger a manteiga e manteiga para alimentar as pessoas”. Para o almirante, os países europeus devem apostar na dissuasão. Além disso, diz que mais do que a capacidade (que diz que a Europa tem de sobra por comparação com a Federação Russa), Gouveia Melo diz que contará a “vontade”.
A sala encheu tanto para Henrique Gouveia e Melo que Marcos Perestrello (seu companheiro de painel, em conjunto com a moderadora Maria Castello Branco) brincou com o facto da sala estar lotada e ainda estarem pessoas em pé: “Gouveia e Melo fica beneficiado [face a outros putativos candidatos]. Toda a gente percwebe auditório enche desta maneira devido à minha própria notoriedade.”
À saída, Henrique Gouveia e Melo mostrou estar (ainda) pouco habituado à bateria de perguntas dos jornalistas, mas foi respondendo. Disse que a candidatura presidencial não era um tabu e desvalorizou as aparições públicas e artigos de opinião. “Durante anos estive limitado na participação cívica. Agora já não estou”, disse. Questionado sobre se estava agora “mais perto” de ser candidato a Belém do que quando saiu de Chefe do Estado-Maior da Armada, voltou a cortar a eito: “Estou mais liberto”.
Gouveia e Melo só ficou menos confortável quando foi questionado se não anunciar já não era uma espécie de desonestidade perante os portugueses: “Não. Então estou aqui a responder a todas as perguntas. É preciso dar tempo.”
observador